Dentro da Rocha não batia vento, nem um soprinho sequer, mas o frio era presente como um elefante na sala. O brilho do arco-íris que a família seguia era lindo. E, de certa forma, hipnotizante. Ti, Tai e Vi andavam de mãos dadas e em fila indiana. Passo por passo. Quase sem piscar. Nem os ecos que ouviam constantemente os distraía. O arco-íris nascia e morria em algum ponto além da Rocha, e o caminho interno deveria ser o método mais seguro de chegar lá.
O brilho do arco-íris era como pequenas velas iluminando as curvas da rocha, ou seria mesmo uma caverna? E após andarem o que pareceu um tempo bem curto, eles avistaram lá ao longe uma outra porta. Eles avançaram com mais velocidade, ansiosos para ver o lado de fora. Quando abriram a porta os corações saltaram para boca. E os rostos se avermelharam de medo e surpresa.
A porta de saída dava para um cenário exuberante, mas eles estavam quase no topo da Rocha Azul. Como era possível que eles andaram tanto? Como era possível que eles nem perceberam que estavam subindo, escalando a rocha por dentro? Todo o caminho, apesar das curvas e desníveis, pareciam estar sempre seguindo em frente e não para cima.
Agora eles teriam que seguir a escada cravada na rocha do lado oposto ao que entraram. E deste lado da rocha ventava muito. E eles tinham que andar com cuidado, pois qualquer vento mais forte podia derrubá-los.
Ti, que tinha medo de altura, suava frio e andava de lado, com as costas para a paisagem. Com a cara tocando a face gelada da Rocha. Vi estava logo atrás de seu pai, e seguia quase engatinhando pelos degraus escuros. Tai, que estava na ponta, tinha um olho aberto e outro fechado e também seguia com as mãos tremendo, sem saber se era medo ou frio.
E assim, meio aos trancos e barrancos, a família desceu a Rocha Azul. O frio e o medo não os deixou apreciar a paisagem, mas se eles estivessem um pouco mais relaxados, poderiam ver o início e fim do arco-iris. E o líder dos sorrisos livres esperando ali, bem no meio do arco-íris.
***
Quando finalmente eles chegaram ao último degrau da escada rochosa, eles comemoram com uma dancinha engraçada e gritinhos “uhulll”. Ti estava tão aliviado que pegou Vi no colo e a girou até os dois ficarem tontinhos da silva. Tai mal podia controlar o sorriso. Era uma felicidade que dizia “Ufa! Passamos por essa e estamos vivinhos”. Depois de comemorarem, a família se recompôs e finalmente se deixaram abraçar pela incrível paisagem a frente. O arco-íris estava tão perto agora, que mal podiam acreditar.
O arco-íris era enorme e as cores mais convidativas do que podiam imaginar. De longe ninguém poderia ver o que a família estava vendo agora. Cada cor do arco-íris tinha uma textura diferente e um objetivo diferente. A primeira cor era violeta. E ela tinha buraquinhos, que a família depois descobriu que serviria para fazer mais uma escalada. Depois era uma cor anil, um azul escuro. Parecia água, mas não molhava. Depois era a cor azul e parecia céu de brigadeiro. A cor verde, que vinha logo em seguida, parecia gelatina. A cor amarela brilhava com o sol mais quente. A cor laranja tinha cheiro de fruta e, por fim, a cor vermelha, que parecia pulsar como as batidas de um coração.
Vi se aventurou primeiro e começou a escalar a primeira cor, com Tai e Ti logo atrás dela. Enquanto subiam o arco-íris, eles se perguntaram se mais aventuras ou perigos os esperava. Ao chegarem quase no meio do arco-íris, eles ouviram alguém chamar
– Hei, aqui, olá….
Vi acenou com sua mãozinha de criança. Enquanto Tai olhava para Ti para sinalizar que alguém estava ali logo adiante. E a pessoa continuou:
– Até que enfim vocês chegaram!
O líder dos sorrisos livres estava preso na cor verde. Da cintura para baixo submergido na gelatinosa cor. Ele tinha uma aparência jovem, o que levou Tai a pensar que o arco-íris parou o tempo para ele.
– Vocês precisam me puxar com bastante força, para eu poder desentalar, mas não podem tocar no verde. Se tocarem, é capaz de ficarem entalados também.
Ele falava como se já conhecesse a família. Parecia feliz por vê-los e otimista de que poderia escapar daquela gelatina em breve. Tai e Ti falaram juntos:
– Aguente firme aí!
O líder continuou a falar, como se uma boa prosa fosse ajudar a família a andar mais rápido.
– Ah, já ia esquecendo, meu nome é Ami. Nossa, tenho esperado por alguém faz tempo. Achei que ninguém ia vir. Se tiverem com sede, podem colocar a mão na segunda cor. Ela não molha, mas mata a sede. Quanto tempo estão viajando: Eu estou preso aqui faz muitos e muitos anos, mas o tempo não passa. Tem mais gente procurando por mim: Quer dizer, eu fui capturado, achei que alguém ia fazer algo. Mas olha, vou te dizer, nunca perdi as esperanças…
Tai achou o líder engraçado. Ele quase não respirava entre uma frase e outra. Estava tão empolgado de ver o socorro, que não podia se controlar. Enquanto ele falava sem parar, a família avançou chegando agora pertinho dele.
– Oi Ami – falou Vi.
– Oi Ami – falou Tai.
– Oi Ami – falou Ti.
– Oi, oi, oi – falou Ami, sorrindo e estendendo os braços para que a família o salvasse.
Por alguns segundos ninguém falou, concentrados em puxarem Ami para fora da gelatina. Eles puxaram uma, duas, três vez… E pah! pum! bam! Os quatro se atropelaram escorregando pelo céu de brigadeiro, como se fosse tobogã até chegarem de novo ao chão. Ao saírem do arco-iris, se sacudiram. Se abraçaram e se sentaram para um descanso.
Então Ti falou quebrando o curto silêncio:
– Oi Ami, eu sou Ti. Essa é minha esposa Tai – falou apontando para Tai – e minha filhinha Valentina – falou apontando para Vi. Estamos muito felizes de ter te encontrado.
– Oh, muito prazer em conhecer essa família tão agradável e corajosa. Eu é que estou feliz de ter sido encontrado.
– E agora que te encontramos, precisamos saber, o que aconteceu? – Perguntou Tai.
Ami pareceu surpreso.
– Ué?! Mas vocês não sabem?!
E a família balançou a cabeça negativamente.
– Caramba! E vocês vieram todo esse caminho sem saber? Deve ter sido uma aventura e tanto.
E a família sacudiu a cabeça positivamente.
Então Ami começou a contar a história do capturador dos sorrisos. Ou pior, da capturadora do sorrisos.
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