Vi e o arco-íris – Parte 2

Lá estava ele, o arco-íris de para lá de Rocha Azul. Só depois de o verem de perto é que Ti e Tai entenderam o porque do nome Rocha Azul. A forma como a luz do arco-iris refletia na rocha, o brilho azulado e extra iluminado pelos sois e as gotículas de chuva que nunca secavam, tudo isso fazia daquela rocha Rocha Azul.

Eles retomaram a caminhada, o céu parecia ter se transformado em um azul radiante. Mas quanto mais perto do arco-iris chegavam, mais frio parecia ficar. Era um frio estático. Como se o globo não estivesse girando. Como se o tempo estivesse congelando a cada passo. Toda a linda vegetação os encarava sem movimento. Era como andar em uma pintura, ou uma fotografia. Tudo estava la, mas nada se movia.

Ti e Tai começaram a ficar inseguros. Vi andava no meio deles, segurando a mão de cada um. Ela ainda tinha os olhos iluminados pela curiosidade. Mais a frente eles avistaram alguém. Parecia uma criança de longe, mas ao se aproximaram puderam ver. Era uma senhora de olhos raivosos e cara entediada. Ela tinha um cabelo vermelho desbotado e usava uma toca colorida mas cheia de buraquinhos. Ela não tinha um ar amigável, e seus dedos pareciam cigarros. Saiam fumaças das pontas de seus dedos, o que fez Vi pensar que seria muito arriscado trocar um aperto de mão com ela.

Ela não parecia ser o tipo de pessoa que você colocaria para ser um segurança. Mas era isso o que ela estava fazendo. Estava de guarda. Ela parecia guardar uma porta. Uma porta encravada na Rocha Azul. E a família entendeu imediatamente que para seguirem adiante e encontrar o começo e fim do arco-iris eles teriam de fazer aquela senhora rabugenta se mover.

O enigma para fazer a senhora se mover eles não sabiam. Talvez se eles perguntassem, ela pudesse lhes dar uma pista. Uma pergunta para responder, quem sabe? Tai se arriscou primeiro com um Oi, mas a rabugenta nem piscou. Ti tentou em seguida com um Podemos passar? Mas a rabugenta estava la, paradona e com aquela cara azeda.

Eles pensaram então que talvez pudessem simplesmente passar ao lado da senhora, mas estavam um tanto preocupados. Arriscar ou não arriscar? Enquanto debatiam mentalmente a melhor maneira de passar pela rabugenta, as pegadas quadradas apareceram no chão novamente. E quando as pegadas passaram ao lado da senhora, ela finalmente se moveu, seguindo com os olhos o rastro deixado no chão. Por conta dessa pequena distração, a família escapuliu nas pontas dos pês. Chegaram ate a porta da rocha e la sumiram de vista. A rabugenta voltou a sua posição. E Ti, Tai e Vi estavam aliviados. Ainda não sabiam a quem pertenciam a misteriosa pegada, mas estavam empolgados demais agora.

Naquele momento eles estavam dentro de Rocha Azul e havia um brilho de arco-iris iluminando toda a passagem. Eles sabiam que tinham que seguir aquela luz. E foi exatamente isso o que fizeram.


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Vi e o arco-íris – Parte 1

Eles andaram e andaram e andaram. E que longa aventura Ti, Tai e Vi estavam vivendo. O sorriso de Vi, a busca pelo livro Cins no tempo dos sorrisos livres, a prancha temperamental, a estrada que levava para Terras Nem tão distantes, formigões assustadores, mas nem tanto, sombras zombeteiras e, finalmente, para lá de Rocha Azul estava ali, onde a família esperava encontrar o começo e o fim do arco-íris.

Tai e Ti ainda esperavam ansiosos para que Vi sorrisse. Eles tinham convicção de que se Vi sorrisse o arco-íris apareceria e eles poderiam ter um senso de direção melhorado. A nova paisagem continuava a deixar Vi extremamente entretida e tudo era fascinante, mas ainda não a havia instigado a sorrir.

Para Ti, parecia uma eternidade. Quanto mais andava, mais longe parecia estar. Para Tai, parecia muito quente. Quanto mais andava, mais quente o tempo parecia ficar. Para Vi, parecia tudo muito brilhante. Quanto mais andava, mais intensa eram as cores.

As pegadas na areia rosa e macia continuavam a se estender. Então Vi notou que havia mais um par de pegadas… Ela olhava para trás enquanto andava, e quando percebeu que definitivamente havia algo errado com as pisadas marcadas no chão ela cutucou Ti e Tai. Os dois olharam na direção em que Vi apontara, mostrando a irregularidade das marcas na areia. Hmmm soltou Ti. Talvez algum bicho esteja fazendo o mesmo caminho. Tai estava apreensiva. Ela falou que não achava isso muito plausível.

A família ficou em pé no mesmo lugar por alguns instantes tentando ver se as pegadas avançariam sem eles, ou se continuariam estáticas. Vendo que nada mudou, eles seguiram alguns passos e não deu outra, outras marcas de outros pés apareceram na areia. Mas não parecia uma marca de um pé comum. Parecia uma marca mais quadrada, sem curvinhas. Eles pararam de novo. Ti coçou a cabeça, Tai mordeu o canto dos lábios e Vi, com sua esperteza ingenua, pegou o cobertorzinho e cobriu o caminho adiante.

Ti e Tai observaram e o estalo veio com um pouco de atraso. Claro! disseram, vamos ver se funciona. Eles pisaram no cobertorzinho, escondendo o rastro daquele pequeno espaço. De repente, a pegada quadrada apareceu do lado do cobertor e depois a frente e continuou seguindo… Será que eles tinham despistado o que quer seja que os estava seguindo?

Eles aproveitaram o cobertor já no chão e sentaram para fazer um lanchinho. E enquanto comiam, por alguns momentos, se sentiam em férias. A paisagem parecia lhes abraçava, delicada e cheia de beleza. Era pouco depois das três, o sóis estavam quentes e a luz de um deles iluminou o rosto de Ti de um jeito engraçado, que ele mal conseguia abrir um dos olhos e ficou assim, um olho fechado, outro aberto, enquanto comia.

E Vi sorriu. Seu pai parecia ter uma mancha de sol sob o olho fechado e a cena lembrou Vi de um palhacito com um olho amarelo que ela tinha em casa. E ela riu e falou, palhacito. E Tai riu logo em seguida, e Ti riu depois. E os três começaram a rir juntos.

Ah, o livro Cins no tempo dos sorrisos livres estava certo, os acontecimentos imprevisíveis causados pelos sorrisos eram mesmo imprevisíveis, mas isso não era necessariamente algo ruim. Porque naquele momento, enquanto a família inteira sorria, o arco-íris mais lindo que eles já tinham visto apareceu pintando do céu a terra, com cores vibrantes e convidativas a poucos metros dali. E eles estavam tão perto do arco-íris agora, que sabiam, dentro deles, assim como as borboletas no estômago anunciavam, eles encontraram o que estavam procurando. E as respostas estariam lá esperando por eles.


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Vi nas Terras Nem Tão Distantes – Parte 3

A placa de para lá de Rocha Azul apareceu no caminho. Tai, Ti e Vi estavam perto de encontrar respostas. Quem havia “expulsado” o líder dos Sorrisos Livres de Cins? E Por que? Tai guardava com ela os versos que eram na verdade algum tipo de instrução, quase uma charada, para encontrar as coisas perdidas. Para encontrar o líder desaparecido. Foi depois dessa mensagem que essa aventura em Terras Nem Tão Distantes começou. E a família sabia que estavam chegando lá. Só precisavam de um pouco de persistência e esperança. Eles podiam sentir. Mas também sabiam que perigos poderiam surgir no caminho.

Até agora já tinham enfrentado os formigões e as sombras zombeteiras. E foi Vi com sua inocência inteligente que os tirou do perigo. Até agora ela tinha usado seu livro de riscos e rabiscos para distrair as grandes formigas. E usou a lanterna de seu foguetinho para iluminar sobre as sombras. E o seu próximo recurso, ainda guardado no fundo de sua mochilinha seria usado em breve. O cobertorzinho.

Assim que a prancha cruzou a placa de para lá de Rocha Azul ela simplesmente parou. Apesar de ainda haver chocolate branco na prancha, ela não podia mais seguir adiante. Algo naquela terra a impedia de funcionar. Ela se pôs a dormir. Deixando Tai, Ti e Vi a pé. Eles pegaram o que ainda sobrava de alimento, a mochilinha de Vi e o pequeno papel com as instruções.

E começaram a seguir o resto da estrada andando, sempre em frente. Tai decorou o papel e o repetia como um mantra agora: Onde houve o primeiro arco-íris, houve também muita alegria… Onde houve o último arco-íris, houve também muita tristeza.. Para onde vai o arco-íris depois que some? Onde desaparece é também onde encontram-se as coisas sumidas…Quando os sóis brilham forte e a chuva para de pingar, pinga o arco-íris onde você vai me achar.

Tai de repente foi tomada por uma ideia brilhante. Os sóis iriam brilhar mais forte logo logo… As 3 da tarde era o ponto mais alto dos sóis e, desde que Vi sorriu pela primeira vez, eles estavam cada vez mais quentes. Fazer chover seria difícil, mas então tanto Tai como Ti lembraram de quando o arco-íris brilhou em Cins. O primeiro efeito do sorriso de Vi na terra de Cins. Talvez, se Vi sorrisse, um arco-íris poderia aparecer… Valeria a tentativa, com certeza. Apesar da preocupação deles. Já que a prancha parara de funcionar, talvez o sorriso de Vi também não teria efeito ali, mas eles tinham que tentar.

Naquele momento, porém, Vi estava distraída. Ela olhava o novo cenário a que era exposta. A estrada de para lá de Rocha Azul era uma areia rosa e macia. E Cada passo deixava pegadas no chão que pareciam ficar lá para sempre. Marcando todo o caminho. E Vi observava seus pezinhos andando na areia e depois olhava para trás para ver as marcas que havia deixado. Era um olhar curioso, mas não divertido. Ti e Tai decidiram fazer-lhe cócegas para ver se o sorriso lhe brotava. Não adiantou. Tinha de ser um sorriso espontâneo. E eles teriam que esperar.

Porém, enquanto caminhavam… as pegadas deixadas no chão de areia estavam sendo seguidas de perto. Algo ou alguém os observava. E Ti e Tai esperavam ansiosos que Vi pudesse lhes presentear com um sorriso espontâneo, e talvez encontrar onde começava e terminava o arco-íris daquela instrução…


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Vi nas Terras Nem Tão Distantes – Parte 2

Cins, a terra onde ninguém sorria, amanheceu do mesmo jeito de todos os dias, com uma unica diferença: Vi e seus pais partiram em busca do líder desaparecido dos Sorrisos livres e enquanto o povo de Cins acordava, a família já havia cruzado a fronteira para Terras Nem Tão Distantes e enfrentado uma colonia assustadora, mas nem tanto, de formigões. Para saírem daquela enrascada, Vi distraiu as grandes formigas com seu livro de riscos e rabiscos e com seus rasbiscadores. Depois eles entraram de novo na prancha temperamental e continuaram a jornada para para la da Rocha Azul, onde esperavam encontrar mais pistas ou, enfim, respostas para os recentes acontecimentos.

Ti e Tai ainda respiravam ofegantes cheios de adrenalina e surpresa. Estavam mais do que felizes por Vi ser uma menina tão corajosa, pois nenhum dos dois conseguiria ter lidado melhor com os formigões do que ela. Porém, mal recuperaram o folego e outra enrascada estava por vir. Dessa vez, seria o foguetinho, que Vi adorava fazer voar preso ao ventilador, o grande objeto de salvação da família.

Após cruzarem a fronteira e deixarem os formigões para trás, Vi continuou alerta e cheia de expectativas. Olhava a paisagem que parecia mudar conforme os sóis faziam sua rotação diária. Ao longe ela podia jurar que via animais fantásticos e plantas tão coloridas como nunca viu em sua vida. As vezes até esfregava os olhinhos, quase não acreditando em tudo o que passava tão depressa pela prancha.

Viajaram o dia todo e a noite toda e pareciam tão tão cansados que decidiram dormir um pouco. Estacionaram a prancha perto de uma árvore que fazia uma sombra engraçada, apesar de já estar escurecido o céu, e armaram dentro da prancha o que chamavam de apranchamento.

Vi dormiu segurando as mãos de seus pais e os três descansaram por algumas horas, até que ouviram um barulho que despertou os três quase que simultaneamente.

Havia algo lá fora e não era outra colonia de formigões. Dessa vez, parecia algo muito mais assustador, já que eles não conseguiam ver o que era da posição de apranchamento.

Tai foi a primeira a falar

Olá… e apenas o eco a saudou olá olá olá

Quem está ai… e o eco dizia tá ai ai ai

Tai parecia apavorada e cutucou Ti para que ele fosse lá fora ver o que era.

Ti já estava com a testa toda suada de nervoso e com uma cara que sabe que tem que fazer, mas não tá muito disposto.

Ele deu sinal para prancha e se colocou do lado de fora esperando o pior. É agora que essa aventura doida acaba comigo, tsc tsc tsc, pensou ele.

E, quando estava do lado de fora e observou tudo ao redor, nada parecia estar lá. Não conseguia saber de onde viera o barulho.

Ele sabia que algo os acordara, mas não fazia ideia do que o esperava.

Então, distraidamente, Ti olhou para os seus pés. E a sombra engraçada onde decidiram parar a prancha parecia ter mudado. Já não tinha o mesmo formato. Mas que raios… pensou ele encafifado.

Ti começou olhar mais de perto, quase se agachando no chão. Então a sombra lhe deu um ponta pé e começou a rir de sua cara, abrindo um sorriso sem dente na escuridão. E Ti, totalmente confuso e agora esparramado no chão, não podia acreditar.

A sombra pareceu assoviar e outras sombras se alongaram para assistir Ti se levantando do chão e para ver a sombra engraçada rindo de montão de sua traquinagem.

Dentro da prancha, Tai deu ordem para que Vi ficasse bem quietinha e que ela iria ajudar o papai. E Vi, decida, cruzou os braços e emburrou a cara. Ela também queria ir ajudar o papai.

Tai não pode convencê-la do contrário, e ambas saíram cuidadosamente da prancha e encontraram Ti todo desajustado e confuso.

O que houve, Tai perguntou. E Ti, dando de ombros, apontou para as sombras zombeteiras.

Enquanto os dois adultos tentavam descobrir como para as sombras e suas brincadeiras sem graça de empurrar Ti ao chão, Vi tirou de sua mochila o foguetinho que tanto gostava.

No nariz do foguetinho havia uma lanterna. E Vi não pensou duas vezes…

Apontou o nariz do foguete para a prancha e fez a luz irradiar tudo a sua volta. As sombras escorreram rapidamente, escondendo da luz seus últimos risos de troça. E depois daquilo, ninguém mais queria dormir.

Pegaram a prancha e voltaram para estrada. Logo, logo uma placa indicaria para lá de Rocha Azul e eles sabiam que estavam cada vez mais perto…


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Vi nas Terras Nem Tão Distantes – Parte 1

Vi admirava a mudança de paisagem de dentro da prancha, que ainda seguia a estrada para Terras Nem Tão Distantes. Tai e Ti estavam começando a sentir o cansaço da viagem, mas queriam fazer o percurso dentro do tempo esperado. Quando cruzaram a fronteira de Cins e das Terras Nem Tão Distantes um arrepio soprou Vi e a prancha, como que percebendo o alerta, parou imediatamente.

Ti e Tai não sabiam o que estava acontecendo e ficaram confusos. O que houve? Eles perguntavam para ninguém em particular. Soltando a pergunta no ar, esperando que o universo, talvez, respondesse. Vi tocou o braço de sua mãe e apontou para fora.

Algo como pequenos olhos pareciam observá-los por toda extensão da estrada, da fronteira em diante. Eles não conseguiam ver o que estava por trás dos olhinhos, mas eles pareciam furiosos. E olhos furiosos são sinais de perigo, não são?

Ti tentou fazer a prancha continuar, mas ela se recusou. Temperamental como era, e cheia de medos, não queria mover um centímetro mais. E eles não sabiam se ficavam dentro da prancha e esperavam algo acontecer ou se saiam da prancha e esperavam algo acontecer.

Não teve jeito. Eles pegaram algumas coisas de dentro da prancha e saíram, cautelosamente, para a estrada. Os sóis estavam quente mesmo para aquela hora da manhã. A estrada que parecia macia de dentro da prancha, não era tão macia assim para caminhar, mas fazer o que? Eles sabiam que eventualmente teriam que deixar a prancha e seguir o caminho de outra forma, mas não esperavam que seria tão cedo.

Quando os três estavam para fora e observavam ao redor, os olhos pareciam ter se aproximado e agora eles podiam ver as sombras. As sombras eram assustadoras. Como se grandes animais estivessem a espreita. Cheios de patas e pelos. Mas Vi parecia curiosa, as sobras chamaram sua atenção e ela tirou de dentro de sua pequena mochila o livro de riscos e rabiscos e o seu conjunto de riscadores e rabiscadores. Ela começou a desenhar as sobras. Mesmo ali, parada, junto com seus pais. Ela se apoiou na prancha e fez vários desenhos. Sombras grandes, pequenas, finas e largas, e com olhinhos vermelhos por toda a página.

Enquanto Vi desenhava imersa e perdida em sua imaginação, Ti e Tai se entreolhavam preocupados. Os olhinhos cada vez mais perto. Até que um dos donos dos olhinhos cutucou Ti.

AHHHHHHHHHHHHH!!! – Ele gritou em desespero, fazendo Vi largar seu desenho e fazendo Tai pular tanto quanto seu coração.

ALGO ME TOCOU! ALGO ME TOCOU! – Ele ainda gritava, de olhos fechados.

E recuperando o folego como se tivesse corrido uma maratona, Ti percebeu que se tratava de um formigão. O formigão olhava para Ti com uma expressão divertida, como se seus olhos falassem “que louco esse cara hein?”

O formigão, agora cercado de seus amigos, encaravam a família e a prancha. E seus olhos, apesar de parecerem furiosos, eram apenas muito brilhantes. De perto, os formigões não pareciam tão malvados.

E o formigão que tocou Ti, que devia ser o chefe daquele bando, parou por um instante observado as páginas de desenho de Vi. E Vi, com um sorriso no rosto, estendeu o seu livros de riscos e rabiscos para o sr. formigão. Ele e sua colonia ficaram encantados. Seus olhos pareciam ter crescido de tão fascinados. E Vi estendeu para eles também seu conjunto de rabiscadores.

E assim, distraídos com os desenhos e as cores, os formigões ficaram para trás. Enquanto, muito lentamente, Ti, Tai e Vi entraram de novo na prancha e aceleraram.

Ela os deixou pilotar novamente, mas não demoraria muito até a prancha parar morrendo de medo novamente. E Vi acharia, sem querer, uma solução.


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Vi em busca do líder desaparecido – Parte 3

Os sóis ainda dormiam tranquilamente, assim como os habitantes de Cins, exceto por Vi, Ti e Tai. A família já estava com tudo preparado para botar o pé na estrada e começarem sua jornada em busca da Rocha Azul. Em busca do líder desaparecido do grupo sorrisos livres. Eles já tinham “ligado” a prancha com os abraços, elogios e o delicioso chocolate branco. Tai já tinha colocado os suprimentos numa grande bolsa térmica. Ti já tinha reservado as bolinhas de água, e Vi tinha sua mochilinhas nas costas, aguardando ansiosamente entrarem na prancha e partirem.

Antes de deixarem a casa, a família se reuniu junto a árvore no quintal, e como se pedissem pela benção da árvore, abaixaram suas cabeças e tocaram as rugas do grande tronco em uma silenciosa prece. Estavam prontos. As aventuras incertas de para lá de Rocha Azul os aguardavam.

A prancha deslizou pelas ruas ainda escurecidas de Cins, a terra onde ninguém sorria. A prancha seguia quieta e satisfeita, carregando  Vi, Ti e Tai que tinham seus olhos arregalados de emoção. A jornada estava começando. A busca pelo líder do grupo sorrisos livres iria desvendar de uma vez por todas o que aconteceu com a terra deles e, quem sabe, recuperar o brilho que foi perdido quando os sorrisos sumiram de Cins. E, talvez mais importante, descobrir quem foi ou quem foram os responsáveis pelo desaparecimento do líder.

Ti guiava a prancha com presteza. Enquanto Vi e Tai, de mãos dadas, apreciavam o silêncio e tranquilidade do início da viagem. Ti já tinha planejado o caminho que fariam. Onde parariam para descansar. E algumas músicas para animar a alma, mas que só iriam tocar depois que se afastassem da cidade.

Ainda demoraria algumas horas para os sóis despertarem. A visão noturna de Cins adormecida era um misto de sonho e pesadelo. A falta de barulho era arrepiante aquele horário, mas a visão das casinhas todas enfileiradas, cada uma com uma porta mais diferente que a outra, dava um ar divertido ao cenário, mesmo na penumbra.

Os três seguiam calados. Esperando ansiosos pelo acontecimentos seguintes. A primeira hora da viagem foi suficiente para deixar Vi sonolenta. Quando ela dormiu, Ti e Tai conversaram um pouco sobre os medos deles. O medo de não conseguirem chegar até a Rocha Azul. O medo de não acharem onde o primeiro arco-íris nasceu. O medo de quem quer que fosse que estava por trás do sumiço do líder do grupo sorrisos livres. Mas enquanto conversavam, Ti e Tai se enchiam de uma emoção nova dentro deles. Era uma ansiedade boa. Como uma previsão de que tudo iria dar certo, mesmo se encontrassem problemas no caminho.

Quando os sóis começaram a aparecer a família já estava longe da cidade. A viagem ainda seria muito longa, mas mesmo assim, a felicidade lhes abraçava. Em alguns dias estariam perto de Rocha Azul nas Terras Nem Tão Distantes de Cins. A prancha ainda seguia tranquila, mas a paisagem tinha mudado drasticamente.

A luz fraca e a luz forte dos sóis penetrava o horizonte. Laranja e rosa pintavam o céu ao redor deles. O chão de Cins parecia macio, apesar de sua cor azul acinzentada nada convidativa. O dia estava raiando. E a esperança de uma viagem tranquila raiava também. As aventuras da família estavam apenas começando. 5 dias de viagem, mas incontáveis surpresas.

As surpresas começariam mais cedo do que eles poderiam imaginar. Logo que cruzassem a fronteira das Terras Nem Tão Distantes de Cins. A primeira grande aventura para chegar em Rocha Azul. Ainda bem que Vi tinha colocado em sua pequena mochila o livro de riscos e rabiscos, o conjunto de riscadores e rabiscadores,  seu cobertorzinho de arrastar no chão e o foguetinho. Nunca esses objetos seriam tão preciosos quanto na viagem em busca do líder desaparecido dos sorrisos livres.

(Próximo capítulo – Vi nas Terras Nem Tão Distantes)


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Vi em busca do líder desaparecido – Parte 2

Após descobrirem a página escondida e o poema que era a pista que precisavam para localizar o líder desaparecido do grupo sorrisos livres, Ti, Tai e Vi se animaram. A família estava empolgada com a perspectiva de uma nova aventura, apesar de sentirem um friozinho de medo na barriga. Ti e Tai decidiram que se fossem realmente seguir com o plano não queriam mais envolver seus amigos. Na verdade, Ti queria, mas Tai ponderou que se os amigos poderiam não gostar do fato de eles sorrirem. Fora isso, uma viagem em família passaria despercebida, mas um grupo viajante com seis adultos e uma criança, não, não seria boa ideia. Ti deu o braço à torcer. Tai estava coberta de razão. Seria mesmo muito arriscado envolver tanta gente em uma viagem onde não tinham como saber os perigos e maravilhas que os esperavam.

Vi não escondia mais os seus sorriso quando estava perto de seus pais. Apesar de eles também sorrirem, a frequência não era assustadora. A maioria das vezes que um sorriso brotou em Tai e Ti foi porque eles observavam Vi, ou porque eles falavam de coisas felizes. O sorriso vinha espontaneamente, mas eles estavam se acostumando com o novo hábito. Enquanto Vi se sentia cada vez mais livre por não precisar mais fazer segredo – pelo menos para sua família.

Os pais de Vi explicaram para ela que era muito importante continuar mantendo o segredo sobre os sorrisos para o mundo lá fora, porque os outros habitantes de Cins, a terra onde ninguém sorria, poderiam vê-los, e ninguém sabia o que eles poderiam fazer. Depois, eles contaram para Vi que iriam fazer uma viagem incrível para lá da Rocha Azul.

Ti se lembrava muito bem quando o arco-íris apareceu em Cins, que foi o primeiro efeito do sorriso de Vi. O arco-íris que Ti viu caía para lá da Rocha Azul nas Terras Nem Tão Distantes de Cins e era para lá que iriam em sua nova jornada. Como o poema começava com “Onde houve o primeiro arco-íris”, apesar de não ter certeza se era o caminho certo, era a pista mais realista que tinha em mãos.

Fazia muitos e muitos anos que não se tinha conhecimento de alguém tentando ir para Terras Nem Tão Distantes. Ninguém saia de Cins, porque ninguém precisava sair. Tudo o que os habitantes de Cins precisavam estava lá, e os poucos visitantes que apareciam por ali pareciam perder logo o interesse, o que nunca os incomodou. Normalmente, os habitantes de Cins também pensavam que não havia nada de interessante em lugar algum que valesse todo o trabalho de uma viagem, e assim ficavam, na rotina tranquila e acostumada que tinham.

Conforme o plano de irem para Terras Nem Tão Distantes tomava forma, a família ficava mais ansiosa. Tai decidiu preparar vários pães cins com vários recheios gostosos, congelou alguns roxarangos em pequenos saquinhos de porção individual, e comprou três grandes garrafões para colocar cafemelo. Café da manhã era a refeição mais importante, e Tai não queria correr o risco de ficarem sem comida durante a viagem.

Ti calculou que levaria pelo menos cinco dias para chegar nas Terras Nem Tão Distantes, se não encontrassem nenhum problema pelo caminho. Como os dois sóis brilhavam mais do que nunca, Ti também preparou várias bolinhas de água. Cada bolinha de água equivalia a um copo, mas era muito mais fácil de transportar e nunca perdia a temperatura pré programada. Para liberar o líquido da bolinha, eles só precisavam colocar em contato com a boca e apertar suavemente duas vezes, e pronto, a água vinha bem geladinha e gostosa.

Para poder chegar além da Rocha Azul eles também precisavam planejar o transporte. Eles sabiam que precisariam andar parte do caminho, mas queriam ir o máximo que pudessem sem precisar fazer muito esforço. Decidiram usar a prancha coberta. A prancha coberta flutuava rente ao chão e era bastante silenciosa, tinha espaço para dois habitantes totalmente crescidos e para dois habitantes não crescidos totalmente. E poderiam colocar as bagagens como acento ou como apoio para os pés.

O problema era seu sistema de funcionamento, que era muito complicado. Para fazer a prancha funcionar eles tinham que fazer três coisas. A primeira era abraçar a prancha para que ela não ficasse temperamental durante o percurso. Porém, ela tinha que ser abraçada, ao mesmo tempo, por todos que a usariam. A segunda coisa que tinham que fazer era elogiar a prancha, para que ela se sentisse apreciada. Porém, cada um tinha que fazer dois elogios e não podia ser repetido, semelhante, ou o mesmo usado nas últimas 24 horas.

Por último, e mais importante, a prancha precisava de chocolate. Cada prancha tinha sua própria lista de chocolates aceitáveis, mas a prancha que Ti tinha só gostava de chocolate branco, nunca derretido. E arranjar o chocolate branco no meio da viagem é que seria o problema. De qualquer forma, a prancha coberta ainda seria a melhor opção, pois poderiam sair de casa antes dos sóis subirem e brilharem.

Tudo estava sendo preparado com carinho por Ti e Tai. E Vi, também fez a sua própria mochilinha, e colocou coisas muito importantes nela, que seriam muito uteis na viagem. Seu livro risco e rabiscos com o conjunto de riscadores e rabiscadores. Seu cobertorzinho de arrastar no chão. E pediu que Ti soltasse o foguetinho preso ao ventilador, e ela também o colocou em sua pequena bagagem.

Logo, logo poderiam partir em busca do líder desaparecido do grupo sorrisos livres. E eles não podiam mais conter a euforia.


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